Para ler ao som de Jazz
O show já
estava quase no fim quando ele chegou. O ambiente era todo de uma azul
absoluto, com pequenos pontos de luz branca.
Ao som de “blue skies” atravessou
o salão com os pés de quem já conhece o caminho, chegou até o bar e pediu:
- Whisky
duplo sem gelo- me fitou com o canto do olho e acrescentou – e pra ela, algo
doce, sweet heart, talvez.
Não fiquei
surpresa, ou, comovida. Já esperava por ele.
Era
certo que vinha. Conhecíamo-nos de outra estrela, ele seria meu ápice... Meu fim.
Após
alguns drinks, fim do show, me estendeu a mão e disse:
-Vem!
A musicalidade dessas palavras “vem”,
despertou em mim qualquer coisa como um instrumento adormecido.
E fui.
Ele me mostrou as luzes da
cidade, o centro velho. Ensinou-me a ter cautela a andar em becos e ruas
vazias. Mostrou-me os moradores de rua, brinquedos antigos, fogueiras. Contou-me
dos amores.
Já quase amanhecia quando chegamos
em seu apartamento. Fazia muito frio, como não se vê em São Paulo. Ele ligou a
vitrola, acendeu a lareira, tomou mais whisky.
Enquanto acendia o fogo disse -
não precisa mais de toda essa roupa – enquanto se despia e riu.
-Você realmente não presta- lhe
disse sorrindo.
- E isso é um defeito?
- Não, você só precisa ficar de
olhos fechados, pra que eu me lembre de quem você é e não me apaixone por seus
olhos azuis.
De olhos fechados ele me abraçou com mãos de
experientes e me amou.
Ao despertar me despedi:
-É uma coisa antiga, de natureza
noturna. Nunca lhe disse que meu amor era bucólico. Disse-lhe que amava e amo
coisas de natureza inconstante, me apaixono por mulheres e me deito com homens.
Ele sorriu e disse:
-Vem, fica um pouco mais.
Me fiz pelo sinal.
-Sim.
Com aquelas mão, segurou meu
rosto e olhou fundo dos meus olhos, e naquele instante eu soube. Estava
perdida.
Aqueles olhos...
Foi como se em algum lugar do
universo um tornado atingisse uma cidade, Pandora abrira a caixa novamente,
aqueles olhos sem pudor despiam de tudo
aquilo que escondia.
É frio, é quente, amargo feito
vodka, entorpecente como o ópio , viciante como cocaína. Letal como overdose.
Não é amor.
Nathália Loiola